sábado, 4 de setembro de 2010

As drogas e o seu enfrentamento pró-ativo (artigo de Higor Vinicius Nogueira Jorge)


Há alguns anos quando se falava sobre o problema das drogas pensávamos em algo distante e que nunca nos atingiria. As drogas faziam parte do cotidiano apenas de certos bairros das grandes cidades.

Infelizmente as coisas mudaram, as drogas passaram a nos preocupar de uma forma cada vez mais intensa e esse problema tem atingido direta ou indiretamente todos os indivíduos, seja o dependente, sejam seus familiares, amigos e vizinhos em todo o Brasil.

Estima-se que existam no Brasil 1,26 milhões de dependentes em crack, incluindo crianças, adolescentes, adultos e idosos.

Para enfrentar esse problema é muito importante uma atuação conjunta de órgãos governamentais e comunidade visando à prevenção e combate eficiente as drogas, bem como um tratamento que realmente consiga manter o dependente longe de recaídas e que seja reinserido na sociedade.

A prevenção deve ser permanente e principalmente direcionada a expor para as crianças e adolescentes os malefícios proporcionados pelas drogas. Os jovens devem ter a dimensão de que todas as drogas, sejam lícitas ou ilícitas, proporcionam uma falsa sensação de prazer. Esse prazer com o tempo vai se transformando em dor, na mesma medida que o usuário que até então gozava da liberdade para consumir drogas vai se tornando um escravo do vício. Os adultos também devem ter noção das consequências negativas que as drogas proporcionarão para suas vidas.

É necessário também que os órgãos incumbidos de preservar a segurança pública e por consequência de enfrentar o tráfico de drogas sejam adequadamente valorizados. Essa valorização possui diversos aspectos, dentre eles a expectativa de progressão na carreira, respeito dos superiores e também são necessários salários condizentes com a dignidade e responsabilidade do policial. Também é necessário que a Polícia Civil, a Polícia Militar e os outros órgãos atuem estritamente desenvolvendo suas atribuições constitucionais. No caso da Polícia Civil no desenvolvimento das suas atividades investigativas e de polícia judiciária e a Polícia Militar nas ações ostensivas e repressivas. Quando se fala sobre a necessária valorização das referidas forças de segurança é primordial destacar também a importância da polícia ter recursos humanos adequados. Percebemos como a falta de um efetivo adequado de policiais prejudica a eficiência do trabalho da polícia, bem como se torna muitas vezes um fator determinante da impunidade. A falta de policiais muitas vezes é proporcional ao número de crimes.

Outro aspecto relevante diz respeito ao tratamento dos dependentes de drogas. Temos notado o esforço de muitas pessoas e de suas famílias para sair dessa prisão que representa o vício, contudo a mera força de vontade em boa parte das vezes não é suficiente para que a pessoa consiga voltar a ter uma vida longe das drogas.

O tratamento básico deve ser acompanhado por uma equipe interdisciplinar composta por psicólogo, psiquiatra, enfermeiro, terapeuta ocupacional, assistente social e outros profissionais, principalmente da área da saúde.

Lembrando sempre em ações intersetoriais, pois somente com o envolvimento e o fortalecimento de todos os seguimentos da sociedade que poderemos estruturar as políticas publicas para o tratamento e prevenção de álcool e drogas.

Vários programas já são desenvolvidos em algumas regiões do Estado, com isso, o que buscamos é o envolvimento político para que tais ações também possam ser ampliadas para município de pequeno porte, como o trabalho do CAPS – AD que é desenvolvido em grandes centros, deixando municípios de pequeno porte sem um atendimento de qualidade para o dependente químico e também o trabalho com a prevenção que vem ganhando força, suscitando profissionais capacitados para lidar com a prevenção das drogas, com isso, prevenir que o individuo adoeça evitaria o crescimento exacerbado de usuários de drogas, violência que levaria ao enfraquecimento do trafico.

O CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas), tem por oferecer um atendimento na área da saúde mental mais especializado para dependentes químicos, também deve ser disseminado para outras cidades, não apenas para municípios com mais de 70 mil habitantes. O mesmo ocorre com os CREAS (Centros de Referência Especializada em Assistência Social) que deve também ser expandido para municípios com menores populações.

O CRATOD (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), que dá capacitação para profissionais da área da saúde para a prevenção e tratamento da dependência química, deve também ter suas atividades expandidas por todo o Estado de São Paulo.

E o programa PAI-PAD (Programa de Ações Integradas para a Prevenção e Atenção ao Uso de Álcool e Drogas na Comunidade), iniciado no ano de 1999, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, com a finalidade de desenvolver estratégias e ações voltadas para a prevenção e atenção aos problemas causados pelo uso de álcool e drogas. Dentre as principais atividades realizadas nesse programa consta a distribuição de material didático e treinamento de profissionais da saúde e desenvolvimento de projetos de pesquisa na área. O PAI-PAD foi escolhido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para conduzir a implantação das EDIBs (Estratégias de Diagnóstico e Intervenção Breve para problemas relacionados ao álcool). Seria muito importante que todas as Unidades Básicas de Saúde do Estado de São Paulo tenham em seu corpo de funcionários profissionais treinados pelo PAI-PAD.

O projeto Polícia Civil Comunitária (http://policiacivilcomunitaria.blogspot.com) implantado pela Polícia Civil em diversas localidades do Estado de São Paulo tem realizado diversas atividades com a finalidade de aproximar a polícia e a comunidade, bem como tornar a investigação criminal mais eficaz. Um dos principais enfoques desse importante projeto é o enfrentamento preventivo, repressivo e pró-ativo do consumo e tráfico de drogas.

O projeto Santa Fé Livre do Vício implantando pelo Conselho Municipal Antidrogas da Estância Turística de Santa Fé do Sul (blog: http://comadsantafe.blogspot.com) é uma referência, pois conta com a sinergia de órgãos públicos e de toda a comunidade no desenvolvimento de ações visando incrementar a prevenção, principalmente com as palestras realizadas em toda a região, a repressão, por intermédio da parceria com o projeto Polícia Civil Comunitária e a colaboração com o tratamento e a reinserção social de dependentes químicos, que tem sido feito pela Chácara Jerusalém e o Lar Madre Paulina, além de outras clínicas espalhadas por outras localidades.

Outro projeto que tem tido efeitos muito positivos em favor da proteção dos jovens contra as drogas é o denominado “Toque de Acolher”, implantado inicialmente em Fernandópolis pelo juiz de direito Evandro Pelarim (http://evandropelarin.blogspot.com) e depois em Ilha Solteira pelo juiz de direito Fernando Antonio de Lima e outras cidades do Brasil.

O referido projeto tem sido muito importante, pois consiste em diversas ações pró-ativas visando evitar que o jovem seja exposto a situações de risco, inclusive estabelecendo horários para que as crianças e adolescentes permaneçam nas ruas, desacompanhados dos responsáveis. Na maioria dos lugares em que foi implantado, esse projeto é conduzido pelo Poder Judiciário e conta com a participação do Ministério Público, Polícia Civil, Conselho Tutelar, Polícia Militar, Guarda Municipal, dentre outros órgãos. Ao pesquisar as estatísticas criminais dos locais cujo projeto encontra-se em andamento percebe-se a diminuição da prática de crimes e a melhoria da qualidade de vida dos jovens.

Pelo exposto podemos concluir que é necessário um trabalho sinérgico que envolva órgãos públicos e comunidade, principalmente participando ativamente de ações preventivas, colaborando com o trabalho da polícia e com as entidades que promovem a recuperação dos dependentes químicos e a consequente reinserção social dos mesmos, como forma de evitar que tantas vidas humanas continuem a ser ceifadas em razão das drogas lícitas e ilícitas, como temos visto diariamente.

HIGOR VINICIUS NOGUEIRA JORGE é Delegado de Polícia, professor de análise de inteligência da Academia da Polícia Civil, professor universitário, presidente do Conselho Municipal Antidrogas de Santa Fé do Sul e especialista em polícia comunitária. Site: www.higorjorge.com.br




Projeto pretende acabar com as festas “open bar” - O Jornal de Santa Fé do Sul


Na última semana, mais uma vez foi levantada a questão da realização das festas open bar em Santa Fé.

O vereador Alcir Zaina elaborou um Projeto de Lei com o objetivo de impedir que essas festas aconteçam. Segundo ele, o projeto foi proposto não para impedir que as pessoas bebam, mas, sim, que não consumam exageradamente bebidas alcoólicas, pois é a ingestão excessiva que faz com que muitos acidentes, brigas e agressões aconteçam, além de ser a porta de entrada para o consumo das drogas.

“Foi pensando no bem estar da população que propus o projeto. Na última segunda-feira, dia 23, os vereadores, assim como o Comad- Conselho Municipal Antidrogas, o Conselho Tutelar e promotores de festas, nos reunimos na Câmara Municipal visando discutir o problema e encontrar soluções adequadas a todos”, disse o vereador.

De acordo com Alcir, o projeto ainda não foi para a votação, para que haja uma discussão mais ampla sobre o assunto com todas as partes envolvidas, inclusive a sociedade.

O tema proposto pelo Projeto de Lei do vereador já era uma das ações do Comad, através do projeto Santa Fé Livre do Vício, que também se empenha em buscar apoio e solução para o problema, conscientizar, auxiliar, ajudar e prevenir à população quanto ao uso de entorpecentes, cigarros e consumo de bebida alcoólica.

Segundo o presidente do Comad, o delegado de polícia Higor Vinícius Nogueira Jorge, o Conselho está muito preocupado com o consumo do álcool e de drogas na cidade. “Através do o projeto Santa Fé Livre do Vício, já realizamos mais de 30 palestras, e com as caixas coletoras colocadas em alguns pontos da cidade, através do projeto Polícia Civil Comunitária, temos o objetivo de receber denúncias de pessoas que vendam qualquer tipo de droga, permitida ou não, mas ainda é preciso que essas festas open bar sejam realizadas de maneira comprometida com o bem estar da comunidade”, explicou ele.

“O Comad tem tido muita preocupação com as festas open bar, pois as mesmas estimulam o consumo exagerado de bebida alcoólica. O preço da bebida está incluído no valor pago pelo convite da festa. Dessa forma, o indivíduo sempre acaba bebendo mais para compensar o valor pago. Bebendo sem moderação, muitos que vão as festas são habilitados e saem do local dirigindo seus veículos sob o efeito do álcool, o que, além de ser um crime, é muito perigoso”, relatou.

“Mas não é apenas isso que preocupa, mas sim que o álcool, que têm sido a porta de entrada para todas as drogas. Muitos dependentes afirmaram que começaram a se drogar, bebendo, por isso temos que realizar mais ações nesse sentido”, continuou.

Ainda de acordo com o delegado Higor, o álcool é responsável pela maioria dos acidentes de trânsito, há muitos registros de pessoas que estavam embriagadas e se envolveram em acidentes, assim como casos de violência doméstica, pois os agressores geralmente estão embriagados.

“Este ano ocorreram dois homicídios em nosso município, sendo que os responsáveis e as vítimas estavam embriagados. Todos nós recordamos das quatro adolescentes que foram atendidas no Pronto Socorro do município, no carnaval deste ano, em coma alcoólico, depois de participarem de uma festa open bar, em um clube da cidade”, relatou.

Para o delegado “a decisão de beber não é apenas uma escolha individual. O marketing publicitário investe milhões de reais em propagandas que estimulam o consumo de bebidas alcoólicas, e o mesmo marketing é obrigado por lei a sugerir que se beba com moderação. O open bar é ao contrário, pois faz apologia ao acesso livre, sem moderação, a qualquer tipo de bebida alcoólica. Este fato se reconhece quando ao adquirir o convite de uma festa open bar, muitas vezes a pessoa recebe uma caneca para consumir bebida alcoólica”, explicou.

“Cada um presente na reunião desta semana expôs seu ponto de vista. Pretendemos também realizar outras reuniões com os organizadores dessas festas para discutir ações conjuntas para a solução do consumo exagerado de álcool e não descartamos a realização de um plebiscito para que se necessário, seja impedida a realização deste tipo de evento, ou mesmo que seja feito um acordo para a realização das festas”, finalizou o delegado Higor Jorge.

Fonte: O Jornal de Santa Fé do Sul/ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)